3.12.06

 

Entre justiça e emoção, pontos corridos faz quatro anos no Brasil

Durante trinta e dois anos, o Campeonato Brasileiro foi disputado com várias fórmulas. Era mais fácil ganhar na loteria a acertar como seria a disputa do ano seguinte. Mas, desde 2003 foi adotado o modelo dos pontos corridos, no qual, todas as equipes se enfrentam em turno e returno, e o campeão é o time com mais pontos. Completados quatro anos da disputa é hora de fazer um balanço dos pontos corridos no Brasileirão. E com a palavra quem mais entende do assunto: o torcedor.
Com 30 anos de profissão, o jornalista esportivo Márcio Guerra considera o modelo um dos maiores avanços do futebol no país. Para Márcio, a fórmula premia o melhor time. “Em 2002, o Santos foi oitavo colocado na primeira fase e acabou campeão. Nas oitavas de final eliminou o São Paulo, que havia sido o melhor com ampla vantagem. Isso não é justo”.
O jornalista considera as disputas paralelas ao título uma atração do campeonato de pontos corridos. A luta por vagas na Taça Libertadores da América, na Copa Sul-Americana e pelo acesso e rebaixamento, mobilizam todos os times, do início ao fim do campeonato. Porém, para a flamenguista e assistente social Anna Cláudia Alves, essas disputas ofuscaram o brilho do campeão. “Esse ano o São Paulo venceu tão cedo, que daqui a pouco ninguém lembra que ele venceu”.
Anna Cláudia reconhece que o sistema é justo, porém sente falta de mais emoção. “Somos um povo latino, gostamos de vibrar. A decisão é insubstituível. Além disso, o futebol não precisa ser justo, essa é a sua graça”. O estudante atleticano Haroldo Lobo Nascimento também acha o modelo atual mais justo, entretanto, propõe uma fórmula diferente. “O ideal seria os pontos corridos, com as duas melhores equipes disputando uma decisão”.
Choro de perdedor
Márcio Guerra discorda de quem acha a fórmula sem emoção. “Todos os jogos tem bom público, porque ganharam importância igual, acabou aquela coisa de só valerem mesmo as fases finais”. Márcio também critica alguns jornalistas brasileiros. “Muitos acham que o Brasil não deve seguir o resto do mundo, como se fossemos muito superiores aos outros países. Mas isso é atrasado. Se dá certo a tantos anos no futebol europeu, porque não trazer para cá?”.
Para o aposentado palmeirense Roberto Oliveira, o futebol brasileiro tem uma dinâmica diferente. “Na Europa, três ou quatro times disputam o título, e cinco ou seis o rebaixamento. No Brasil, uns quinze lutam pela taça e uns quinze também lutam para não cair. Isso em um campeonato de vinte clubes”. Roberto imagina um Brasileirão com um número maior de clubes. “Trinta e seis seria um número razoável. Eles poderiam ser divididos em duas chaves. E os dois melhores de cada decidem o título”, sugere.
Falta profissionalismo
O supervisor industrial e botafoguense Ronaldo Amorim prefere o sistema de pontos corridos, porém, acredita na necessidade de um maior profissionalismo no futebol. Só isso, independente do modelo, faria do Campeonato Brasileiro algo atraente, inclusive no exterior. “Os clubes precisam de uma gestão profissional para manter craques no país. Nos últimos anos a qualidade do futebol caiu, e isso não é culpa do sistema da competição”.
Márcio Guerra também apontou a falta de estrutura como uma barreira a se vencer. “Se o público tem diminuído é culpa da violência e dos absurdos horários dos jogos impostos pela televisão”.Agradar a todos é impossível, assim como cada torcedor tem a escalação ideal do seu time na cabeça, também tem a fórmula mágica do Brasileirão. Entretanto, a mais de cem anos bola rolando em gramados tupiniquins sempre foi sinônimo de emoção. Craques aparecem todo dia, o público é apaixonado. Se os cartolas ajudarem o futebol do nosso país pode ser um show assim como a NBA, como os campeonatos europeus. Com ou sem final.



Momentos para esquecer
Em 1974, Fluminense e Nacional (AM) passaram da primeira fase pelo critério da renda, criado para salvar os grandes que andavam mal das pernas nos campeonatos anteriores.
No campeonato de 79, o número de 94 clubes criou algumas distorções. O Guarani, campeão do ano anterior, jogou apenas três vezes. Para ser terceiro colocado no mesmo ano, o Palmeiras só precisou entrar em campo cinco vezes.
Entre 1980 e 83, os melhores da Taça de Prata, espécie de segunda divisão, garantiam o acesso no mesmo ano. Em 82, o Corinthians foi o quarto colocado no Brasileiro depois de subir no mesmo ano à primeira divisão.
No ano 2000, com a criação da Copa João Havelange, era permitido a clubes da segunda e terceira divisão disputar a fase final. O São Caetano acabou sendo vice campeão, após ter sido segundo colocado também na segunda divisão no mesmo ano.



Público começou a cair na década de 80
A média de público do Campeonato Brasileiro é uma justificativa de quem se opõe aos pontos corridos, mas durante a história ela já oscilou bastante (ver tabela abaixo). Na primeira edição mais de vinte mil pessoas em média assistiram as partidas do torneio com vinte clubes, divididos na primeira fase em dois grupos.
A partir disso o campeonato foi inchando. Determinação da antiga Confederação Brasileira de Desportos (CBD), responsável pelo torneio. O órgão ligado ao governo militar via no Brasileirão uma oportunidade de promover a integração nacional. Assim, em 1979, 94 clubes participaram do Brasileiro, que teve uma das menores médias de público da história.
Depois dessa marca impressionante, o número de clubes foi diminuindo, mas sempre com torneio de grupos e com finais. Na década de 80, a média de público foi de mais de 15 pessoas por jogo.
Na década de noventa, os regulamentos tiveram poucas variações. E a média de público começou a cair. Apenas em 99 a marca de 14 mil por jogo foi superada.
Desde 2003, com a adoção do sistema de pontos corridos, o público oscilou muito. Em 2004, a pior marca da história foi registrada, 8.805 por jogo. Desde a implementação do sistema, a média de público é de pouco mais de 10.500.
Para 2007 a fórmula já está confirmada pela CBF, com a disputa em pontos corridos na Série A e B do Brasileirão.

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