7.5.06

 

Notícias do dia

Antônio mora em Magé, município da Baixada Fluminense, trabalha como ascensorista em um prédio de luxo em Copacabana, o que o obriga a acordar às 4 da manhã, como milhões de brasileiros. Durante o café da manhã o aparelho de rádio está ligado, ouve com sua esposa a Rádio Globo, emissora mais ouvida do Estado, e que nesse horário toca música apenas. Ele prefere ouvir algum noticiário, já que, adora política e gostaria de se informar logo cedo. Porém, não quer contrariar sua devotada esposa que “todo dia faz tudo sempre igual”.
Sai de casa para pegar o ônibus, o primeiro do dia, pois ainda precisará pegar mais dois e o metrô, isso só pra chegar no trabalho. No coletivo todos já se conhecem, pois lá estão diariamente. O assunto do momento é a crise política do país. Antônio nem se dá conta de que tudo que ouve e diz é uma repetição idêntica do que foi dito no dia anterior no Jornal Nacional. Arnaldo Jabor é parafraseado no mínimo umas dez vezes, as repetições soam cada vez mais como idéia original na boca de seus companheiros.
No restante do percurso, a música embala os pensamentos de Antônio, isso porque os meios de transportes já tocam música, talvez para entreter o trabalhador, ou será que para impedi-lo de pensar? Quando desce da estação do metrô, vai caminhando até uma banca de jornal próxima ao “seu prédio”, como em todos os outros dias um aglomerado de pessoas está parado em frente à banca para ler as notícias do dia. O Dia e o Jornal do Brasil são seus preferidos, ele os acha “bonitos” e com boas fotos, obviamente não os compra, só olha o que está na capa, afinal de contas, com o dinheiro do jornal ele paga uma das passagens do dia.
Quando assume seu posto de trabalho, logo vê a Veja da semana, também só a capa, porque a revista mesmo é de um dos moradores do prédio, que a assina. Mas o que ele lê durante o dia serve para que ele forme a sua opinião, para que depois do trabalho ele repita tudo com amigos no bar tomando uma cerveja.
No Brasil de Antônios, ainda se forma opinião através de meios de comunicação que pouco diferem, e que não dão nenhuma oportunidade de reflexão, independente da empresa que os dirijam. O risco de que a verdade seja facilmente manipulada é imenso, pois no nosso país a grande mídia não é regulada, deixando bem claro que regulação não é censura. A imprensa tem o dever de investigar, de buscar informar com precisão, mas historicamente vemos que ela age através dos seus interesses. Grandes redes se alinham com o poder facilmente, e quando quem detém esse poder não agrada mais, é fácil descartá-lo. Até porque, nosso amigo Antônio não gosta dos políticos que aparecem denunciados no JN, muito menos dos que aparecem acusados de práticas ilegais nas capas dos grandes jornais e grandes revistas.

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